Por dignidade na velhice

Por dignidade na velhice

O filósofo e orador romano Cícero escreveu: “Por certo, os que não obtêm dentro de si os recursos necessários para viver na felicidade acharão execráveis todas as idades da vida. Todos os homens desejam alcançar a velhice, mas, ao ficarem velhos, se lamentam. Eis a inconseqüência da estupidez! Uma vez transcorrido o tempo, por longo que seja, nada mais consolará uma velhice idiota. As melhores armas para a velhice são o conhecimento e a prática das virtudes. Cultivados em qualquer idade, eles dão frutos soberbos no término de uma existência bem vivida.” 

A existência segue um padrão evolutivo: nascimento, infância, adolescência, vida adulta jovem, meia-idade, terceira e quarta idades, que alguns chamam de envelhecimento. Durante esse trajeto, cada indivíduo deverá ser capaz de enfrentar os desafios econômicos que se lhe apresentem a cada etapa da vida. Dar certo nesse percurso depende de cada um, enfrentando obstáculos e desafios econômicos, como educação, saúde, habitação, previdência oficial, seguro de vida, previdência complementar e lazer. 

Muitos ficam para trás, à deriva, por circunstâncias ou por opção. Aqueles que chegam vivos à velhice passarão de que forma o resto de seus dias? Com saúde? Sem casa própria? Sem renda decente? Só com INSS? Dependendo dos filhos? Não há nenhuma certeza de que alguém nos cuidará na velhice, então, como se pode ter dignidade nesse momento? 

Além da formação, a renda é essencial e se constrói ao longo da existência, poupando um pouco do que se ganha, programando uma previdência complementar, para usufruir na próxima fase da vida, até chegar à velhice. Alguns se equivocam e investem unicamente em patrimônio, mas é a renda que mais importa. Somente ela dá verdadeira liberdade e soberania de ir e vir. Além do mais, todo bem imobilizado é um bem de raiz, que fixa as pessoas e traz outras conseqüências. 

É triste, é forte, e talvez até ofensivo, mas deve-se admitir, sem hipocrisias, que velhinhos com muito patrimônio terão sua morte esperada por herdeiros (não significa que será desejada, claro). Velhinhos com renda, por sua vez, serão bem cuidados porque, se morrerem, vai-se sua renda, da qual muitos podem depender. Por isso, vale o argumento da sabedoria popular: “Se tudo der certo na sua vida, você vai envelhecer”, com o complemento de que, se quiser ser respeitado, garanta a certeza de que terá sua própria renda, sem depender de ninguém. 
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(Everson Oppermann - Jornal do Comércio)

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